Uma das questões mais debatidas entre meus colegas da Especialização em Design Gráfico na UFMA e também nas listas e fóruns sobre design que faço parte, tem sido quantos layouts devem ser apresentados como propostas de solução visual para determinado projeto.
Acredito que os designers usam uma metodologia genérica ao abordarem um problema a ser resolvido graficamente (seja um logo, um cartaz ou um cartão): quais as informações cruciais do briefing que devem ser levadas em consideração ao se transpôr intenções, mensagens e significados na peça? Nesse método geral, cada profissional pode adaptar à sua realidade (prazo, honorários, expertise, custos operacionais, porte do cliente, natureza do projeto).
Eu mesmo, até agora, sou adepto de fazer um bom levantamento de informações sobre o problema e buscar a solução mais satisfatória para resolvê-lo. Alguns trabalhos de criação de logotipo, admito, já fiz mais de 10 layouts (o que se mostra muito improdutivo, pois você tem um desgaste de criatividade e de tempo). Só que já consegui matar projetos também no primeiro layout apresentado (claro que depois de algumas dezenas de esboços). A regra que me impus foi apresentar 3 layouts (com possibilidades de variações), cada qual com um caminho diferente na proposta da solução.
Um colega comparou essa situação fazendo analogia com um tratamento médico. Ele disse que um médico não dá 2 ou 3 diagnósticos ou faz 2 ou 3 intervenções cirúrgicas. Que se o designer apresenta mais de uma proposta de layout ele deveria receber por cada uma delas (bastante justo até). Acredito que essa analogia não deva ser feita literalmente, embora eu compreenda e até concorde em parte com ela. Porém não vemos constantemente pessoas pedindo uma 2ª ou 3ª opinião sobre seu estado de saúde ou que precisam fazer uma cirurgia de emergência causada por algum erro médico? No caso do erro do designer a saúde que é afetada é da empresa que o contrata.
Outro colega me disse, e com bastante propriedade pela sua experiência, que se você apresenta mais de 1 proposta de layout você subjetivamente está dizendo ao cliente que não acredita em nenhuma delas e deixa na mão dele decidir aquela que ele “acha” que é a melhor. Isso faz com que o processo criativo e de decisão do designer possa ir por água abaixo deixando com o cliente o fechamento de todo o processo. Para um designer ter a atitude de apresnetar somente uma proposta e manter-se nela requer segurança na sua criação e determinação na defesa de sua ideia. Também compreendo e concordo em parte com essa prática sugerida pelo meu colega. Mas, no final das contas, quem tem de aprovar o layout não é a pessoa (ou equipe) que o contratou? Também não podemos “empurrar” algo se nosso interlocutor não aprova e nem compra sua ideia.
Esse processo todo é complicado pois não existe uma regra única a ser seguida, um parâmetro que sirva de bússola pra essa prática. Ler, pesquisar, debater e praticar nos leva a um amadurecimento profissional em que tais situações, espero, sejam resolvidas espontaneamente. Não quero, nem de longe, apontar um caminho a ser seguido na apresentação de layouts, pois minha intenção ao escrever esse texto é justamente provocar e gerar o debate pra daí cada um adotar sua melhor prática profissional. Recomendo que, antes do próprio cliente, você deve ficar satisfeito com seu trabalho e dormir tranquilo com aquilo que acredita ser justo.
Os comentários só enriquecerão o debate portanto fiquem à vontade. Acompanhem essa discussão também no fórum do DesignBR e no Blogarte.
19 comentários:
Garcia, e quando o cliente olha duas opções e diz: eu quero esse símbolo aqui com a letra do outro. Putz! Frankstein total. É por essas e outras mais como você mesmo disse que só se deve apresentar uma solução.
Evolution Morpheus, evolution. A cada dia se aprende algo...
legal o post, garcia... eu faço pouca marca, mas confesso que já usei essa coisa de 3 opções... fez todo sentido pra mim comparar com o diagnóstico de um médico... me fez pensar! valeu!
Comparo com qualquer outra profissão, imagina um engenheiro/arquiteto, durante o projeto sim se faz alterações discute-se possibilidades e tal. mas fazer três obras p ver qual "AGRADA" o cliente não dá né!?
Leve seu cliente para dentro do projeto, ele vai se sentir muito mais confiante e atendido do que passar mês(es) sem dar as caras e aparecer com 3 (ou 10 como algumas agências) com o discurso: -Dããã encontrei algumas possibilidades para sua empresa, todas boas (maior mentira do mundo), agora o senhor decide!
Garcia,
Não existe uma regra ou fórmula mágica para essa questão. Existem crenças, métodos, formas de fazer, que dependem das experiências e adaptação metodológica de cada profissional.
Dentro da metodologia de design estratégico, por exemplo, cada proposta é vista como uma oportunidade de posicionamento da empresa/cliente no mercado, ou seja, poderá influenciar diretamente na forma de atuação, negociação e comunicação dessa empresa com o referido mercado. As propostas não devem ser vistas somente como soluções gráficas ou partidos estéticos.
Outro ponto relevante nessa metodologia é que o cliente é quem define o caminho que quer tomar (ele decide) e não o designer. A função do designer, neste caso, é oferecer suas ferramentas - e aí se entende como ferramentas a capacidade analítica, criatividade, visão sistêmica, expertise, conhecimento tecnológico, bagagem cultural, etc. – com o objetivo propor a melhor forma de resolver o problema.
Quanto à quantidade de propostas, dependendo da forma que você conduza a negociação, o valor da criação já pode está incluso no contrato.
1,2,3 propostas, isso tudo é uma gestão de estratégia. Você deve encontrar a sua!!!
Bom sou defensor da marca única. Do projeto que acredito (em cima de briefing, pesquisa, etc...) ser a solução ideal. Pra mim, quem apresenta três marcas não acredita em nenhuma.
O cliente na maioria das vezes não tem a menor competência em determinar o caminho a ser tomado. Ele sabe onde dói mas não sabe qual o remédio tomar.
Sei que ele é o maior conhecedor do seu negócio. Mas ele esta contratando um profissional pra que dê, ou trace, a melhor solução para o seu problema. Se ele soubesse resolver, pra que contratar um terceiro????
Permito, muito pouco, quase nada, a interferência do cliente. Ele tem o direito “sagrado” de não aprovar, mas alterar...
Puxa, que bom que o post gerou comentários tão ricos e interessantes. Como escrevi no texto: longe de mim appontar "o caminho". Estou mais tendencioso a concordar com a postura do Marcelo sobre o Design Estratégico que simplesmente uma solução gráfica do ponto de vista estético/comunicacional.
Bom, é verdade, o profissional tem a livre escolha de como proceder em sua metodologia de trabalho, pode tomar o "comprimido vermelho, azul, rosa de bolinhas verdes"... enfim...
Agora imagine processar um ano de pesquisas (R$) e chegar ao final e dizer p o cliente. - Então Dr. detectamos que sua empresa está mal, a notícia boa é que achamo cinco caminhos, sua empresa pode seguir a "linha" moderna, sofisticada, ecológica, austera, ágil. Aí o cliente (quer quer tudo de bom p saúde da sua empresa) diz, quero todas ué!!!
Detalhe, agora não falei na porcaria da solução gráfica.
Parabéns Garcia. Você tocou em um tema bacana. Marcelo tem toda razão nesse sentido.
Não deve existir apenas a “solução gráfica”. O design tem que ser holístico.
Por tanto, conhecendo bem o problema, temos que apontar “a solução”.
As três marcas que vc apresentou aqui, por ex, me agrada a três. Mas não saberia dizer que atende a necessidade do cliente.
Mas eu tenho certeza que vc sabe qual delas melhor atenderia tal necessidade.
Não é preciso mostrar “N” marcas para mostrar esforço, dedicação, que passou noites em claro, que foi expulso do restaurante por ter rabiscado todo o estoque de guardanapos para que ele respeite o trabalho.
É necessário sim, fundamentar a defesa. Dessa forma trará segurança ao que esta sendo proposto.
Adorei o debate... Ótimo tema...
.
Bem... Diferente da maioria de vocês, eu não estou há muito tempo no mercado...
Mas eu já passei por algumas situações que me fizeram mudar a forma de pensar design.
Já apresentei 3 opções e nenhuma delas foi aprovada (alguns clientes não sabem se decidir e sempre pedem mais uma... isso vira uma bola de neve)... Já fiz 2 opções e o cliente pediu um frankenstein...
É... a gente vai aprendendo...
Hoje eu faço o seguinte (ou pelo menos tento) faço uma apresentação explicando o que é uma marca, como ela deve se posisionar no mercado... Mostro a importância de uma identidade forte pro crescimento da empresa (eles sempre querem saber se esse investimento vai render lucros)... E, por fim, apresento dois caminhos que a marca pode seguir... O cliente escolhe entre dois caminhos, não entre duas marcas.
A partir dai eu crio uma marca seguindo o caminho escolhido pelo cliente.
Claro que:
Tudo depende do cliente e de como as coisas são combinadas no contrato... tempo e valor.
E sempre temos o famoso briefing... que,quando bem feito, nos ajuda muito.
Pô Roberta, será que cobrimos a proposta da "ppderia"!?
Temos que trabalhar juntos ;)
Tio Clóves, o lance de passar em noites em claro e rabiscar nos guadarnapos é a pura realidade, eheh!
Jeff, muito pertinente tua observação, mas talvez eu não seja tão radical assim (já sou em muitas coisas, mais uma e me torno um mala de vez, ehehe).
Roberta comentou algo bem interessante, que, de certo modo, faço nos últimos anos: apresentar a importância de ter uma identidade visual forte e consistente (a famosa "aula" que damos pro cliente) e apontar os "caminhos" que a solução pode seguir. Acredito que minha tendência de método de apresentação chegue a 1 layout, mas até lá... vou aprendendo.
Ah! E a proposta aprovada foi a última (3ª).
Sem dúvida alguma, a melhor dessas três!
Bem, no meu humilde ponto de vista, não acredito nesse negócio de 3 logotipos ou 3 opções, ao meu ver, soa como se você estivesse empurrando qualquer coisa pro cliente, querendo fechar um negócio a qualquer custo, soa até desesperador, está vendendo um desenho gráfico que "representará" a empresa dele, é meio que um ato de micreiragem. Porém precisamos primeiramente separar as coisas, há clientes e clientes.
Basta separarmos também, que tipo de profissional você é, se você é desenhador de logotipo, ou um construtor de marcas e seus respectivos sistemas de identidade visuais.
Afinal, o que você faz? É desenhador de logotipo ou um criador de identidades?
Dependendo da resposta, acho que 3 opções ainda é pouco.
Mas na boa, nem estou falando que alguém deva fazer um projeto etnografico ou um manual de branding para um cliente que quer simplesmente um logotipo, mas acredito que até um pequeno cliente, merece justificativas e uma pequena pesquisa para que não se faça uma solução gráfica pela solução gáfica, ou um trabalho cheio de "achismos" e de modinhas visuais, justifique seu trabalho, desenhe um pensamento elegante sobre o seu projeto, faça o cliente entender os caminhos que você seguiu para chegar naquele projeto/resultado, melhor que chegar com 3 logotipos no cliente pra v qual dos 3 cola, e pior, pode ser que nem um dos 3 cole!
Vcoê é que é o profissional certo e qualificado, você é quem dá as cartas, se o cliente te contratou, vamos supor que você sabe de coisas que ele não sabe, pq se o soubesse pra que te contratar?!
É vero Bruno, há clientes e clientes; designers e designers e publicitários e publicitários...
Já vi cases de colegas locais de renome em que, no processo, apresentaram mais de uma proposta ao cliente para a definição do logo. Está errado ou certo? Não sei, cada qual faz o que mais lhe é acertado para obter um resultado satisfatório.
Agora, quando se está falando de algo macro, que é o design estratégico, nem todo o cliente quer (ou pode pagar) por ele. Alguns querem apenas que seu logo (símbolo, tipografia e aplicações) bem desenvolvidos e com algum conceito.
E aí é que um um designer oportunista (no sentido não-perjorativo de aproveitar as oportunidades) entra: pega o cliente que não tem capital pra investir com os grandes, porém ainda necessita de um bom design.
Santa "inocência" Batman!!!
Como diz o grande tio Cróvis, "cada cliente tem a agência/profissional que merece".
... e assim caminha a humanidade, cheia de tropeços e percalços!
Pergunte se o cara quer comprar uma marca ou um leque serviços? Se você está vendendo uma marca como um produto ela não vai VALER tanto como um leque de serviços que você pode oferecer com a apresentação de UMA opção (pesquisa, estudo, análise, laboratório, a melhor solução, identidade, unidade, psicologia, ... inventem outros ai)
Penso (e pratico assim), que deve-se ter pelo menos três idéias iniciais, com suas variações e etc. No entanto, na hora de apresentar ao cliente é conveniente a apresentação de um única proposta, aquela na qual o designer sente mais segurança em relação a tudo que lhe foi passado no briefing. A apresentação (e falo por experiência) de mais de uma proposta, gera no cliente a dúvida. Isso é certo. Mostra também para ele (que teoricamente é um leigo no assunto e por isso nos contratou), que nós mesmos não temos a segurança de que aquilo que apresentamos é o ideal. Portanto, se você tem a convicção de que aquele determinado projeto é o mais adequado, arma-se das argumentações mais fortes e parta para o convencimento. Se você estudou bem o briefing, terá êxito com certeza. Se mesmo assim, o cliente estiver em dúvida, então parta para aquelas variações que você deixou guardadas. Lembrando também que este tipo de abordagem também ajuda a valorizar o seu trabalho.
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