Sobre Rio 2016
Como de costume, toda vez que é lançada uma marca nacional, chove um festival de sites, blogs e espaços virtuais comentando, elogiando ou criticando sua eficácia ou estética. Após o fatídico caso da marca da Copa Fifa Brasil 2014 amplamente criticada em seu processo de criação, escolha e resultado, chegou a vez da marca das olimpíadas Rio 2016. E chegou em boa hora não apenas pela análise técnica de seu resultado, mas para a avaliação da pertinência (ou não) dos comentários a seu respeito.
É de bom tom analisar a realidade atual dos meios democráticos de difusão de informações provenientes da Internet, embora não seja o foco. A liberdade de expressão aliada ao processo de inclusão digital faz com que a busca por fontes de informações tenham de ser avaliadas com cautela de modo a analisar a confiabilidade do autor e de seu conteúdo. Torna-se tarefa diária separar opiniões particulares de análises críticas e é de extrema importância fazê-la conscientemente.
Nos últimos dias após os meios de comunicação de massa noticiarem o lançamento da marca Rio 2016 as redes sociais e blogosferas lançaram milhares de comentários positivos, negativos e neutros sobre o resultado. A normalidade do caso até então, foi quebrada em um grupo de discussão da Especialização em Design Gráfico da Universidade Federal do Maranhão quando a este foi apresentada a crítica de Mario Amaya, RIO 2016: MAIS UM TRIUNFO DA BANALIDADE”, (http://marioav.blogspot.com/2011/01/rio-2016-mais-um-triunfo-da-banalidade.html) que nos fez refletir mais sobre o assunto.
Explico: o processo avaliativo dentro do grupo de discussão refletiu bem o objeto de estudo uma vez que funcionou como uma representação em menor escala da macroatividade que acontece na blogosfera. Iniciou-se com opiniões particulares de gosto e evoluiu para análises técnicas sobre eficácia. Durante o debate foi levantado o ponto peculiar que culmina neste texto: a existência de um discurso. Ora, ignorando-se as divergências opinativas à cerca da marca e as respostas em fórum sem embasamento técnico (ou puramente direcionadas ao cunho pessoal) verificamos a existência de um discurso crítico embasado tecnicamente, e é isso que se espera de um profissional de design nesse momento.
No que tange a perspectiva apresentada por Mario Ayama eu discordo da avaliação crítica. Creio que os pontos levantados, como seu incômodo quanto ao uso de "pessoinhas feitas de fitinhas" são facilmente refutados lembrando a apresentação da atualização da marca da bienal de São Paulo feita por André Stolarski, onde o mesmo diferente (a marca da bienal): "marcas em forma de círculo existem aos milhares, desenhos originais e únicos como esse, muito poucos". (http://www.youtube.com/watch?v=NrRMIkkv0lI&feature=related)
Sobre a indagação quanto às cores, é impossível, por exemplo, ver a Petrobrás em vermelho e azul. A própria Vale mudou suas cores para ter a cara do nosso país. Copa do mundo para o brasileiro é verde e amarelo. E não adianta criticar dizendo que é mesmice: é equívoco em demasia brigar com uma coisa que está tão arraigada no repertório popular. Mas mesmo abstraindo e dando ouvidos ao crítico, repare que a marca representa uma escultura e por isso não possui cores sólidas. Note que há a cor laranja na marca, uma cor inexistente em nossa bandeira.
A questão do Pão de Açúcar é outra divergência: chegou a ser discreto ao ponto do crítico não ter percebido. É um clichê, mas bem utilizado e funcional. Não adianta inovar com invenções como a marca do Pan 2007 referindo a vitrais. Eu não me recordo de vitrais no Rio (mas não vou lá há muito tempo), não fiz essa associação e posso afirmar que em meus círculos de amizades, não encontrei quem a fizesse. Já o Pão de Açúcar esteve até em filme de James Bond. Está presente na memória até do chinês que tem acesso limitado à internet por causa da censura do país.
Posso ter me deixado levar por antipatizar o texto pelo fato de gostar muito do resultado da marca. O próprio debate no grupo EDG acabou por me fazer ler e reler de modo a compreender a real intenção crítica. Afora a divergência de opinião, entendo todas as colocações de Mario Ayama e as acho completamente pertinentes (não a este caso) como uma análise crítica da conduta do design nacional se valendo de soluções corriqueiras. Ao meu ver não denigre utilizar um "caminho comum". O problema é usá-lo errado, mal feito, e isso, com certeza, não é o caso dessa marca.
Por fim, após evoluir do processo de divergência de opinião para o campo do debate técnico, compreendo melhor uma citação que ao acaso me chegou por email, e que nada diz respeito ao conteúdo deste texto, e que lembra que em tempos de democratização do pensar devemos nos munir da tolerância à divergência: "Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante seu direito de dizê-la". François-Marie Arouet (Voltaire).
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